Natividade da Serra
por Tobias Evandro Alves
Incrustrada em um mar de morros, nos contrafortes da Serra do Mar, Natividade da Serra, com seus quase 7 mil habitantes, “ressurgida das águas”, preserva com carinho a culinária tropeira e possui uma riqueza natural inigualável.
No ano de 1823, a família dos Toledo veio de Portugal e instalou-se, primeiramente, na cidade de Cunha. Depois receberam um pedaço de terra onde hoje é o município de Natividade da Serra para explorá-la racionalmente. Deslocou-se primeiro para a Vila do Bairro Alto — naquela época um amontoado de casinhas — e depois instalou-se às margens do Rio do Peixe. A data mais antiga documentando a origem de Natividade da Serra é 29 de maio de 1853, data de Emancipação Política do Município.
Por 120 anos a cidade viveu de forma pacata, ao estilo caipira, sem pressa, e com isso manteve através das gerações as suas tradições folclóricas e seu patrimônio arquitetônico.
Em 1973, Natividade da Serra sofreu uma enorme transformação e foi transladada para um novo local. Essa mudança foi em consequência do represamento do Rio Paraibuna, Rio Lourenço Velho, Rio do Peixe e Rio Paraitinga, para a construção da Usina Hidrelétrica de Paraibuna, formando a represa da Companhia Energética de São Paulo (CESP). A obra visava atender demandas socioeconômicas regionais que atingiam os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O estado procedeu com a construção da Represa de Paraibuna, inundando totalmente a área urbana e grande parte da área rural. Na zona rural, o represamento das águas afetou as terras férteis, eliminando grande parte da agricultura de subsistência. Assim, ocorreu uma desestruturação na produção agropecuária e na infraestrutura fundiária, provocando o êxodo rural, com um impacto de 30% a menos no índice populacional, sendo a maior parte proveniente da zona rural.
Além dessas perdas significativas, também se perdeu a arquitetura colonial típica do século XIX, que retratava o legado dos ciclos econômicos do ouro e do café, gravados no contorno de seus casarões. Houve uma descaracterização da identidade da comunidade local, pois muitos que ali viviam se mudaram para outros municípios e os que ficaram precisaram se preocupar em se instalar na nova sede.
O município de Natividade da Serra foi o mais impactado na construção do Reservatório de Paraibuna, e seus efeitos ainda são sentidos até hoje no âmbito sociocultural e econômico, enquanto a população busca reencontrar a identidade que foi submersa.
Com a construção da barragem de Paraibuna, ocorreu a inundação da antiga cidade, surgindo a nova Natividade da Serra, fundada em 13 de agosto de 1973 com o lançamento da pedra fundamental feito pelo então prefeito Otacílio Fernandes da Silva, pelo Padre Higino e toda a comunidade escolar da época, no local onde era a prefeitura e hoje abriga o Centro Cultural Municipal.
No plano de implantação do reservatório, foram apresentados os impactos que seriam causados aos municípios que tinham como base econômica a agropecuária. Previa-se que, a partir da inundação, seria necessário modificar o foco, e já se verificava o potencial turístico e paisagístico da região. A falta de estrutura para receber turistas foi identificada como o maior desafio para o desenvolvimento regional — e, mesmo após 43 anos, essa continua sendo uma necessidade.
A CESP, visando oferecer uma alternativa de desenvolvimento, assumiu a responsabilidade de criar infraestrutura e áreas para atividades de turismo e lazer, fomentando a economia dos municípios que pagaram um alto tributo pela implantação do reservatório, muitos deles vivendo em semi-isolamento e com sistema viário precário devido ao contorno imposto pelas águas.
Natividade da Serra possui 120 km² de terras alagadas. Hoje, o lago formado pelo represamento é um grande potencial turístico, junto à natureza abundante, com dois núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar dentro do município.
A base da economia local é a agropecuária, com destaque recente para a monocultura do eucalipto, cultivada na maior parte do território.
A cidade é também muito conhecida pelas manifestações religiosas populares, como a tradicional Festa de São João Batista do Bairro do Pouso Alto e sua peculiar gastronomia, com o típico afogado — prato à base de carne, preparado com misticismo e fartura. Essa comemoração, realizada há mais de 40 anos, preserva tradições religiosas e culturais da população.
No calendário de festividades, há ainda a Festa do Peão de Boiadeiros, a mais conhecida da região, celebrando o aniversário do município no dia 13 de agosto. Outro destaque é a Festa do Produtor Rural e a Rota Gastronômica do Cambuci, evento que valoriza os produtores rurais e a fruta típica da Serra do Mar. Nesse evento, diversas iguarias são preparadas com o fruto — de vinho a peixe —, tornando Natividade da Serra o maior produtor de cambuci do Estado de São Paulo.
Entre os atrativos naturais, o município abriga no Parque Estadual da Serra do Mar o Núcleo Santa Virgínia e o Núcleo Caraguatatuba, que se estendem do leste ao sul das terras do município, a pouca distância do litoral. Ali, amantes do turismo natural podem desfrutar de várias trilhas ecológicas, com diferentes níveis de dificuldade, além de rafting.
Outros pontos da região guardam cachoeiras em estado nativo e inúmeras quedas-d’água, ideais para passeios. No ecoturismo, além das trilhas e do rafting, há opções como canoagem na represa, cavalgadas, passeios de bicicleta, cascading, passeios de duck e também simples momentos de descanso em família junto à natureza.